Em 2016, Belarmino, na sala "Corisco", no prédio da Elógica |
A primeira vez que entrei
no escritório de Belarmino Alcoforado, na Elógica, foi em outubro de 2016, para
entrevistá-lo. Era repleto de coisas por todos os cantos, em cima das mesas,
das cadeiras, pelos cantos, no chão. Placas de rede, partes de caixinhas de
MDF, peças, cabos, quadros. Ele saiu para me receber no estacionamento e, antes
de qualquer coisa, mostrou a “Artesão Digital”, empresa para a qual se dedicava,
então. Cortes à laser, personalizados, em chapas MDF, conforme projetado no
programa Corel Draw. Um catálogo de produtos era o portfólio para encomenda:
fabricação de produto e venda. Fomos conhecer outro empreendimento, o “LivroRápido”, uma editora por demanda, para pequenas ou médias tiragens.
A conversa que eu planejava ter com Belarmino naquele dia não
seria sobre o presente, mas sobre o passado. Sintetizava-se em uma palavra:
“Corisco”, o primeiro computador pessoal totalmente produzido no Norte e
Nordeste, colocado à venda em 1983. O entrevistado surpreendeu-me com histórias
de computadores ainda mais antigas. Aos 21 anos, em 1968, ele operou um
mainframe Burroughs, instalado na Equipe Planejamento e Assessoria, um bureau
de processamento de dados em Recife.
O nome “Corisco” vinha abaixo de “Belarmino Alcoforado”,
na placa de identificação pregada na porta do escritório. Ali pulsava, ainda, o
coração do temido cangaceiro, fonte infindável de ideias e inovações.
Mucky Telly Savalas |
Quase um ano depois, retorno ao local e quem vem ao meu
encontro é Mucky Telly Savalas. Um descendente de polonês, robusto e careca tal
qual o Kojak, o famoso detetive do seriado americano dos anos 1970. Mucky é
apelido; Telly Savalas foi por minha conta. Seu nome de fato é Erharrd Cholewa
Júnior. Trabalha há mais de 25 anos com Belarmino e está à frente da nova
Artesão Digital em Pernambuco; a empresa mudara o foco. Transformou-se em uma
emergente empresa de software, voltada para o artífice. O produto final não é
mais seu objetivo e, sim, o processo de produção.
Como explicou Mucky Telly Savalas:
- Depois de alguns anos com a Artesão Digital, observamos que a maior dificuldade para os artesãos está em fazer o projeto. Qualquer peça, qualquer móvel, para ser cortado, precisa de um “roteiro” com as medidas de cada peça, encaixes, se tiver, prateleiras, etc. Com esse projeto em mãos, o artesão pega uma serra tico-tico, um metro e corta a folha de MDF. Quem investiu um pouco mais e tem uma máquina de corte à laser, insere pelo computador as medidas ou planta do projeto na máquina e ela faz o trabalho. É aí onde vai entrar a nova Artesão Digital.
- Depois de alguns anos com a Artesão Digital, observamos que a maior dificuldade para os artesãos está em fazer o projeto. Qualquer peça, qualquer móvel, para ser cortado, precisa de um “roteiro” com as medidas de cada peça, encaixes, se tiver, prateleiras, etc. Com esse projeto em mãos, o artesão pega uma serra tico-tico, um metro e corta a folha de MDF. Quem investiu um pouco mais e tem uma máquina de corte à laser, insere pelo computador as medidas ou planta do projeto na máquina e ela faz o trabalho. É aí onde vai entrar a nova Artesão Digital.
O software que Francisco, sobrinho de Belarmino, e ele
mesmo (no início) estão construindo irá transformar em planta a peça ou o móvel
que a pessoa está imaginando ter. Personalizado. O cliente entra no site,
escolhe um artífice na localidade onde mora, insere as medidas da peça a ser
feita e o software entrega para o artífice a planta do produto com as medidas e
o formato de cada parte. Se o artífice tem um equipamento à laser, basta
encaminhar o arquivo e “paunamáquina”.
Essa é a nascente ideia a ser desenvolvida. Segundo Mucky
e Francisco, a etapa mais custosa e difícil para o artesão, o projeto, será
suprida pelo programa que já tem nome: “Mosaico”. Os testes, as provas, o desenvolvimento
de código são feitos, por enquanto, no prédio da Elógica, em Peixinhos, bairro
de Olinda que faz divisa com Recife.
Contudo, a plaquinha não está mais na porta da sala. O
“Corisco” se mudou para João Pessoa em janeiro, de onde impulsiona as ideias.
Propulsão sanguínea e de alma. Belarmino recupera a saúde aos poucos, mas
jamais perdeu a capacidade criativa e inovadora.
Estágio atual do projeto “o Último Corisco”:
- Captação de recursos – investimentos para a arrancada
inicial.
- O fator empreendedorismo social é, sem dúvida, premente.
- O ineditismo é. Ponto. Inédito!
- Para quem? Especialmente, para o artífice. De onde uma
cadeia produtiva será beneficiada tecnologicamente, desde o cliente.
“Zorba: final satisfatório, de qualquer maneira!”
(Palavras que sairiam da boca de Belarmino!)
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