– Roubaram o Unix.
Pode escrever aí – enfatizou Belarmino. O Unix que chegou ao
Brasil, versão 7 da AT&T, em 1980, foi trazido por um canadense. Era uma cópia do programa que rodava nos computadores Digital em universidades do Canadá.
– Mas Belarmino –
argumentei – as universidades de Toronto e de Waterloo, no Canadá, de onde veio a cópia,
tinham um convênio de cooperação técnica com a Universidade
Federal da Paraíba. Os professores, em
intercâmbio, fizeram uma extensão dos recursos para o Brasil.
– Eu vou repetir:
foi roubado. E no Brasil estava proibido entrar software estrangeiro. Reserva de mercado. A história é longa. vou te contar.
Conversamos sobre o
Unix no Brasil no primeiro dia em que voltamos a nos encontrar, em
agosto de 2017. Conheci Belarmino no ano anterior, depois que
entrevistei Hermes Aguiar, um ex-funcionário da Elógica, empresa de processamento de dados de Belarmino. Estava
pesquisando sobre a informática e a Internet e Hermes garantiu que a
minha fonte era José Eduardo Belarmino Alcoforado, um sertanejo da
Paraíba, radicado no Recife.
– Você não vai
se arrepender – prometeu Hermes. A história dele é a história da
computação, do software, das redes, no Nordeste e no Brasil. Ele
tem um pouco de dificuldade para falar, resquícios do combate contra
um câncer, há alguns anos. Mas tenho certeza de que ele irá
contar-lhe muitas histórias extraordinárias.
Entrei no Hospital
Nossa Senhora das Neves (HNSN) aflita. Era agosto, inverno tropical
em João Pessoa. Belarmino havia me smartphonado convocando para uma
reunião, para começarmos o “Último Projeto”.
– Onde lhe
encontro?
– No hospital.
Acabei de sair da UTI.
– O senhor vai
iniciar um projeto internado?
– Quando você
pode vir?
No dia seguinte,
oito horas da manhã, procurava por Belarmino pelos corredores do
hospital. No quarto, a cama estava vazia. A enfermeira avisou que ele
havia ido colocar uma sonda pelo nariz para facilitar a alimentação.
Belarmino estava com
pneumonia e desfrutava a terceira temporada em hospitais diferentes,
em menos de um mês. A solução seria colocar uma sonda gástrica
pela qual poderia se alimentar sem comprometer os pulmões. As
infecções eram decorrência forma de deglutição orientada,
connduzindo secreção para o pulmão. O médico que o atente há
anos, no Hospital Português, em Recife, Jesus Gandara, já havia
indicado há pouco mais de dez dias:
– Não coloco nem
a pau.
Se a teimosia, marca
registrada de Belarmino, contribuiu para ele dar passos largos na
vida, dessa vez seria diferente:
Agosto, 2017, HNSN |
Assim que se
recuperou da cirurgia para a colocação da sonda gástrica,
Belarmino voltou para onde escolheu morar atualmente, um apartamento
em Intermares, município de Cabedelo, vizinho a João Pessoa. Ele me
chamara às pressas, ainda no hospital, pelo timing. Estava em
tempo de iniciar o Último Projeto.
– Aqui está: UP.
Envolve tecnologia, IoT, mas,
acima de tudo, é um projeto social.
Objetivo curto e grosso: até o dia 30 de junho de 2018, chegar a
dois finais possíveis:
Sucesso:
Obter uma injeção de capital numa empresa que se chamará Empuxo de
um valor entre R$ 3 a 5 milhões de reais;
Desastre:
Não chegar lá. Encerrar a carreira de 50 anos. No
desastre comemorarei como um ícone do meu tempo, Zorba o grego.
Sobre o Unix? Belarmino contou. Veremos a seguir.
Sobre o Unix? Belarmino contou. Veremos a seguir.