terça-feira, 19 de setembro de 2017

O primeiro peteleco do Último Corisco

Antes de ser conduzido à sala de cirurgia para colocação da sonda gástrica, J.E.B.A. fez questão de ser fotografado com a “farda” de combate no campo de batalha: touca, camisolão e as devidas conexões vitais — sonda nasal, soro e medicamento. Na hora em que a equipe médica do Hospital Nossa Senhora das Neves, em João Pessoa, estava pronta, Belarmino registrava no notebook a seguinte posição (transcrição literal):
“Hoje, estou escrevendo para tornar pública uma decisão que tomei ao sair da UTI do HNSN 22/08/2017, após dois dias de uma UTI super equipada e eficiente no meu Estado da PARAÍBA.
Mesmo assim, um ambiente depressivo, acachapante e liquidante, me fez tomar uma decisão na vida.
Após um escândalo na UTI no dia 21, onde destratei um Fonoaudiólogo que me deixou sem alimentação, passei a noite no quarto sem dormir e amanheci decidido tomando decisões:
Pedi desculpas ao pessoal da UTI e ao fonoaudiólogo.
Colocar uma sonda nasal que 10 dias antes tinha recusado terminantemente à família e a equipe do Dr. (Jesus de Gandara) meu guru do hospital Português de onde tinha obtido alta no dia 15/08/2017.
Chamei a jornalista Marcia Dementshuk e no mesmo dia (22) acertamos uma empreitada sobre “O Último ComRISCO”:
Curto e grosso: até o dia 30/06/2018 chegar a dois finais possíveis:
Sucesso:
Obter uma injeção de Capital numa empresa que se chamará Empuxo de um valor entre R$ 3 a 5 milhões de reais;
Desastre: Não chegar lá;
Encerrar a carreira de 50 anos.
Não deu para terminar. saindo de maca.
Voltei da cirurgia.
Tudo bem, projeto continua.
Emídia, Alcídes, Gerino, Ítalo:
Gostaria que o desastre ou sucesso do último COmRISCO contasse com o apoio do porto digital. Peça para Chico Saboya me ligar segunda-feira.
Finalmente: A cada dia no blog da Márcia Dementhusk sairá relatos a partir do andamento do projeto. Também sairão flashs sobre momentos das empresas que criamos e de minha vida pessoal.
Se for um desastre veja o final do filme “Zorba — o grego”. Vou comemorar.
Abs, Belarmino.
No dia em que saiu do hospital, 28 de agosto, Belarmino enviou um e-mail para o diretor-presidente do Porto Digital, Francisco Saboya, informando seus planos e solicitando apoio para aquilo que chamou, à princípio, de “Último Projeto”. Saboya está à frente do parque tecnológico desde 2007 e conhece bem o modo intenso e inventivo da atuação de Belarmino. Dois dias depois, responde a mensagem, comunicando que estava em viagem à China e retornaria dia 11 de setembro, a partir de quando daria plena atenção ao Último Corisco: “Será uma grande satisfação ter você aqui entre nós”.
Maravilha, o foguete aquecendo os motores. Márcia já estava registrando a jornada em terras paraibanas. Faltava um contato no Recife, com aptidão para registrar o andamento do projeto naquela cidade. Emídia Felipe. Jornalista e empreendedora na EuEscrevo. Belarmino a conheceu no início deste ano, quando ela gravou depoimentos para um projeto do Softex Recife sobre o setor de Tecnologia da Informação em Pernambuco. Missão aceita, agora é hora de fazer a colimação, como diz Belarmino. Estamos mirando no alvo. Acertaremos ou não?
Hoje é 11 de setembro
Vale muito a lembrança. Em 2001, o bode com um chifre insigne entre os olhos prevaleceu sobre o carneiro de dois chifres, um mais alto do que o outro. Estudiosos anunciaram o cumprimento da profecia bíblica do livro de Daniel, profeta do Antigo Testamento, quando duas aeronaves foram sequestradas e arremessadas contra as torres do Trade Center, nos Estados Unidos.

Duras lembranças daquele 11 de setembro. Foto: Wikimedia
O terror se instalava nos lares americanos e deixava perplexas outras nações. Nessa época, Belarmino discorreu, a partir do episódio, sobre uma nova ordem virtual. Escreveu em “Carcinha — a Biografia a ser publicada”, texto concluído em 2003:
“Inicio pensando sobre o 11 de setembro. O poder de fogo de um pequeno grupo para sequestrar e jogar aviões contra prédios símbolos do poder.
Lembrei-me dos anos 70, de Hermann Kahn, um gordo de 200 quilos, do Instituto Remington, na época da Guerra Fria. No auge dos sequestros de avião, Hermann sugeriu ao presidente dos Estados Unidos: derrube o primeiro que for sequestrado que, com alguns derrubados, os sequestros encerram. Israel adotou a solução e não contempla com terroristas. O Brasil adotou parcialmente e metralhava os trens de pouso de qualquer avião sequestrado.
Mas a minha pergunta vai na seguinte direção: Já pensaram no terrorismo de feras acuadas de altíssimo poder como os EUA em recessão?
Eu leio todos os livros de Tom Clancy. Com a queda das torres fui buscar em “Dívida de Honra” e “Ordens do Executivo” a viabilidade. Eu não acreditava na ocorrência de 11 de setembro, mas o Tom Clancy colocou um personagem piloto de um 747 que se joga contra o congresso americano matando o presidente e a maioria dos congressistas.
(…)
A sociedade capitalista tem como pressuposto básico o contínuo processo de criação/destruição do estabelecido. Hoje você compra um Celta pela Internet. Como a lei brasileira protege o revendedor, o Celta tem que ser comprado na concessionária. Claro que a GM gostaria de vender o Celta direto a você. A esta altura toda uma engrenagem se move financiando senadores e deputados para mudar o estabelecido.
Vai chegar um dia em que o cartório do revendedor de automóveis será rompido. E também vai chegar um dia, como ocorreu com a IBM, com os seus 450 mil empregados reduzida a 250 mil. Isso está num livro chamado “Deep Blue”, gente se suicidando…
Minha opinião resumida sobre o 11 de setembro é que haverão outros, inclusive novos sequestros de aviões.
(…)
No lado da informação: quando eu comecei a empresa de software e processamento de dados Pitaco, em 1976, computador valia 400 mil dólares e agenciar informação era uma fortuna; hoje estão nas mãos de todo mundo. O boato corre rápido, mas o desmentido também. É o problema da velocidade relativa.
(…)
O olho da tecnologia é muito útil no controle da criminalidade. O perigo é quando o criminoso é mais avançado em tecnologia.
Vamos ter que conviver com a invasão de privacidade. Um dos benefícios do meu câncer foi deixar de tomar remédios para pressão. Diminuí trinta e quatro quilos. Eu tomava um remédio de pressão chamado Tenoretic. O preço do remédio: R$ 40,00. Suponha que, nessa sociedade pós−capitalista, eu vá à farmácia, compre um Tenoretic, com meu cartão de crédito. Nisso eu já deixei meu nome com o dono da farmácia. Ela possui um cadastro da Receita comprado de muamba na Santa Ifigênia em São Paulo. Descobre meu endereço e pode me ofertar o remédio na data.
O poder tem que ser recíproco. As pequenas comunidades têm que montar estruturas de compra de remédios para forçar as fábricas a baixar o preço.
A Internet deixou todo mundo nu. Hoje [em 2003] o laboratório em que se faz exame nos últimos cinco anos manda pro convênio todas as suas requisições e disponibiliza os laudos dos seus exames. Isso é invasão de privacidade?
Quando você contrata o plano de saúde no seu contrato está escrito que tem que pedir a bênção a cada exame. Vamos olhar de novo o lado segurança. Estamos discutindo uma segurança que já invadiu sua privacidade. (…)
O ditame mais apropriado para os tempos atuais é: Temos que nos acostumar a andar nus.
(…) Esse lado segurança está hoje [2003] mais divulgado, mas o seu banqueiro sempre soube como andavam as suas contas.
O homem, como uma empresa, tem função social, existem leis, as leis vão ter que ser mudadas, os prontuários das carteiras vão tornar você mais vulnerável, mas eliminarão também muita fraude. Tudo tem o seu obscurantismo e o seu iluminismo. Siga o caminho do dinheiro, lá sempre está o vencedor.”

Embora escrito há quase quinze anos, tanto o sinistro jogo de poder do terrorismo, quanto a polêmica da privacidade, potencializada com a Internet, continuam em amplo debate em nações pelo mundo.

Também na pauta, essa restrita à J.E.B.A. e apontando para um futuro próximo, está o último projeto a ser remetido ao Porto Digital.

*Colaboração especial de Emídia Felipe neste texto.

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